segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Introdução de alimentos para bebês

Digite no Google "introdução de alimentos". Você terá como resposta, em praticamente todos os sites, que a partir do sexto mês o leite materno não é mais suficiente e o bebê precisa de aporte nutricional extra. Será mesmo?

Na consulta do sexto mês da Luisa lá nos EUA, a pediatra nos disse que, a partir daquele momento, ela poderia começar a comer. Porém, ao contrário do que ouvíamos por aí, ela nos informou que o objetivo da alimentação não era por necessidade nutricional, e sim lúdico. Para conhecer sabores e descobrir a comida. A orientação foi para, após a mamada, deixarmos a comida disponível para ela comer apenas se quisesse.

No começo achei estranho, pois eu achava que a Luisa precisava comer. Com muitas dúvidas, pesquisei na internet, pesquisei artigos científicos e conversei com algumas colegas que amamentaram exclusivamente até 10 meses ou mais. Confesso que fiquei feliz em saber que minha pediatra estava certa, pois eu ainda não estava preparada para deixar de exclusivamente amamentar a minha filha.

Logo a Luisa passou a demonstrar interesse pelas nossas comidas, faltando pouco para completar sete meses. Então optamos por oferecer a ela sabores diferentes. Banana, maçã, mamão, cenoura, dentre outras coisas, passaram a fazer parte da brincadeira. Literalmente. Ela amassava, jogava no chão, amassava mais, batia, apertava, passava no cabelo, olhava, mas nada de colocar na boca. Só sentiu o gosto pois dei a ela alguns pedacinhos, mas ela cuspia e logo passou a empurrar minha mão e virar a cabeça. Foram quase três semanas assim, mas o recado estava dado: ela não estava pronta para comer. Muito provavelmente, estava apenas curiosa com o que via e não necessariamente querendo se alimentar.


Foi aí que, lendo mais artigos, descobri que um dos sinais de que o bebê está pronto para comer, que o seu sistema digestivo está maduro o suficiente, é o nascimento dos dentinhos. Esse foi um dos motivos pelo qual eu desisti, pois naquela época os dentes dela não estavam nem ameaçando nascer.


Foi apenas recentemente, com quase nove meses, que os primeiros dentinhos da Luli apareceram. Assim, depois de mais dois meses de amamentação exclusiva, voltamos a oferecer alimentos, mas ela está indo bem devagar. Estou oferecendo alimentação em pedaços. Ela come com a mão apenas alguns pedaços de legumes, frango e em seguida, na mesma "refeição", pedaços de frutas de sobremesa. Nada de suquinhos, ela come a laranja com bagaços e tudo, que é muito mais nutritivo. 




Apesar de meu pediatra daqui de São Paulo concordar que o leite é suficiente e que não comer agora não influenciará em nada seu hábito alimentar no futuro, ele quer que ela coma de qualquer jeito. Na nossa última consulta, ele sugeriu que eu não desse de mamar e a deixasse chorando de fome até comer. Eu perguntei o porquê e ele me respondeu que ela tem que aprender a me obedecer. 


Aprender quem manda na casa? Por que que eu vou travar uma batalha com ela na mesa, para ver qual das duas é mais teimosa, se o meu leite é muito mais completo e nutritivo que qualquer outro alimento, por mais saudável que seja?

Para o bebê, colocar um alimento na boca não significa apenas saciar a fome. Significa a compreensão profunda e total de que ele e a mãe não são uma só pessoa, de que existe um mundo além do peito materno, e que esse mundo também é capaz de alimentá-lo. Exige amadurecimento cognitivo e emocional. Portanto, a introdução alimentar deve ser feita da maneira mais respeitosa e carinhosa possível. 

E o nosso dia-a-dia segue assim: eu vou comendo junto com a Luisa. Os poucos pedacinhos que ela come é porque me vê comendo e me imita. Não sigo a receitinha carimbada do consultório médico que orienta uma refeição salgada diferente da hora da frutinha. Não ofereço alimento antes da mamada. Não forço e nunca vou deixá-la chorando para que coma. Não tenho pressa e não vou abafar minha intuição para satisfazer um padrão que na verdade não existe: nem todos os bebês estão preparados para comer com 6 meses.


A alimentação é complementar e não o leite.

Seguem abaixo trechos do livro do Dr. Carlos Gonzales, pediatra famoso mundialmente pelos seus livros de atenção e cuidados humanizados com o bebê.


"Oferecer significa que, se ele quiser comer, o bebê come, mas se não quiser, não come. Muitas crianças recusam tudo menos o seio até 8 ou 10 meses, muitas vezes mais."

"Alimentos sólidos são oferecidos depois da amamentação, não antes, e certamente não em substituição à amamentação. Somente assim você tem certeza de que seu bebê tomará o leite de que precisa. Acredita-se que entre 6-12 meses o bebê precise de cerca de 500 ml de leite por dia. Claro que isso é uma média, muitos tomam mais e outro ficam bem com menos. Uma criança que toma mamadeira pode facilmente ficar bem com 2 mamadas de 250 ml ao dia. Não é razoável, porém, esperar que um bebê amamentado tome 250 ml a cada 12 horas: os seios da mãe ficariam desconfortavelmente cheios. Faz mais sentido para bebês amamentados tomar 100 ml cinco vezes por dia ou 70 ml sete vezes por dia. Certamente você não sabe (ou não sabia antes de iniciar os sólidos) quanto leite o seu bebê mama: mas se ele é amamentado antes da oferta de sólidos, você fica tranquila sabendo que ele mama o que precisa.


"E se ele não quer comer comida de bebê? Não se preocupe, isso é totalmente normal. Não tente forçá-los. Você talvez tenha sido aconselhada a oferecer sólidos antes do peito, asim ele estará com fome suficiente para comer. Isso não faz o menor sentido, uma vez que o leite materno nutre muito mais que qualquer outro alimento. É por esta razão que usamos o termo "alimentação complementar". Sólidos não são nada mais que um complemento ao leite materno. Se seu bebê mama e depois rejeita frutas, nada acontece: mas se ele aceita fruta e depois não mama, ele sai perdendo. Mais fruta e menos leite é uma receita para perda de peso.

" O mesmo vale para leite artificial. Lembre-se que se você não está amamentando, você precisa dar ao bebê meio litro de leite diariamente até que ele tenha 1 ano de idade"

"A razão principal de oferecer outros alimentos ao bebê com 6 meses (e não depois) é que alguns bebês precisam de ferro extra. Portanto, seria lógico que comidas ricas em ferro fossem introduzidas primeiro. Por uma lado, há carnes com alto teor de ferro orgânico altamente biodisponível. Por outro, há legumes, leguminosas e cereais que contêm ferro inorgânico, mais difícil de ser absorvido a menos que esteja combinado com vitamina C. É por isso que muitos adultos comem a salada primeiro (rica em vitamina C), depois os grãos e legumes, e a sobremesa por último. O que é comumente feito com bebês na Espanha não é uma idéia muito boa, oferecendo a eles somente grãos numa refeição, legumes na outra e fruta na próxima refeição. Quando seu bebê ingere muitos alimentos, é uma boa idéia combiná-los, oferecendo-os numa mesma refeição (não batendo todos juntos no liquidificador, fazendo menus monocromáticos)"

Dr. Carlos Gonzáles coloca também que muitos pediatras orientam a introdução alimentar precocemente, no quarto ou quinto mês, e que alguns bebês podem sim estar preparados antes do sexto mês. Porém, muitos bebês não estão e não tem maturidade motora e cognitiva suficiente para negar nesta idade. Esses bebês crescem acostumados com a papinha e o suquinho porque lhes impuseram, mas uma das maneiras de saber se o bebê está pronto para sólidos é esperar que ele demostre interesse por elas, pegue com suas próprias mãos e se alimente.

Sobre deficiência (ou não) de ferro

A Organização Mundial da Saúde orienta introduzir alimentos para os bebês a partir do sexto mês, já que a partir dessa data, a reserva de ferro do bebê, armazenada durante a gravidez, começa a chegar ao fim, e a única deficiência do leite materno é a de ferro. 

Porém, nem todos os bebês precisam de ferro extra. Além disso, existem algumas maneiras de aumentar o estoque de ferro do recém-nascido. Uma delas é praticar uma alimentação saudável durante toda a gestação. Outra maneira de incrementar o estoque de ferro é realizar clampeamento tardio do cordão umbilical. Hoje sabe-se que cortar o cordão umbilical tardiamente após o nascimento, ou seja, esperar por alguns minutos até que ele pare de pulsar espontaneamente para só então cortá-lo, aumenta o aporte sanguíneo para o bebê em aproximadamente 100 ml, o que vai garantir reserva de ferro para o bebê até os seus 12 primeiros meses de vida.

Tive uma alimentação saudável e balanceada durante toda a gestação. Além disso, a Luisa nasceu de parto normal e por isso não teve seu cordão umbilical cortado às pressas.  Faço acompanhamento regular no pediatra e sabemos que ela não tem anemia. Por isso não me preocupo que ela coma, no total, apenas dois ou três pedacinhos do que ofereço. Nunca chegou a fazer uma refeição inteira e come apenas o quanto lhe interessa. Tem dias que ela não aceita comer nada! Nada! Mesmo assim, ela ganha peso, cresce e se desenvolve psico-motoramente normalmente todo mês. Assim eu sigo respeitando o seu ritmo, e agora estamos completando nove meses e meio de amamentação praticamente exclusiva.

Dicas de leitura

Livro "Meu filho não come", de Carlos Gonzáles. Neste livro ele aconselha e explica: Não obrigue seu filho a comer. Não o obrigue jamais, por nenhum método, sob nenhuma circunstância, por nenhum motivo.

Livro "Maternidade e o encontro com a própria sombra" , de Laura Gutman. Leia o capítulo 3, Lactação e algumas reflexões sobre o desmame.

http://www.babyledweaning.com/ - Site muito legal mostrando que sim, bebês são capazes de comer pedaços com as próprias mãos.

Curso de Introdução Alimentar com abordagem humanizada, baseado nos princípios do Dr. Carlos Conzáles e Laura Gutman: 
http://vilamamifera.com/alimentoecomportamento/category/workshop/


domingo, 29 de junho de 2014

Existe cesárea humanizada?

Muito se discute, principalmente em fóruns de blogs sobre maternidade, sobre a escolha de se fazer uma cesariana e as questões éticas que envolvem uma cesariana por opção. Uma delas é sobre a humanização no atendimento à mãe e no nascimento do bebê.

Cesaristas defendem que parto humanizado é aquele que respeita a mulher, independentemente da via do parto, natural ou por cesárea. Assim, para que mais cesáreas sejam vendidas àquelas mulheres que receiam o parto normal mas também buscam seu envolvimento no processo, essa cirurgia obstétrica tem sido vendida também como um processo humanizado. Por outro lado, defensores do parto normal colocam em questão não só o respeito à mulher e seu direito de escolha, mas também o respeito com o bebê.


O que é uma cesariana humanizada?


Muitas mulheres fogem do parto normal por medo da violência obstétrica, por medo de serem maltratadas e humilhadas. Infelizmente essa é a realidade do Brasil, principalmente em hospitais públicos. Porém, acabam se deparando com os mesmos maus tratos e até outros tipos de violência durante uma cesariana.


Porém, a escolha da cesariana como refúgio do parto normal só fortalece o sistema cesarista brasileiro e diminui cada vez mais a autonomia e o respeito pelo parto das mulheres. E para que mais cesáreas sejam vendidas, assim, hoje está entrando em moda o termo "cesárea humanizada".


Só um parênteses aqui: Sim, cesárea é moda. Parto normal, como muitos dizem por ai, não é. P
arto normal é um processo fisiológico natural que acontece e desde a existência dos mamíferos, sendo eles humanos ou não. Já a cirurgia cesariana começou a ser praticada com frequência a partir do século 18 e hoje é responsável por 90% dos nascimentos dos hospitais privados no Brasil. Portanto, o que está em moda hoje é fazer cesárea. 

Cesariana é recente, mas o termo cesárea humanizada é mais ainda. Durante a cesárea, cirurgia abdominal de grande porte, os cuidados dedicados à mãe podem ser mais especiais, delicados e com carinho. A mulher pode ser tratada com atenção pelo seu obstetra e por toda a equipe, receber palavras de conforto e segurança, ela pode não ter seus braços amarrados no momento que seu filho vem ao mundo e ela pode receber informações narradas do que está acontecendo por detrás do pano, por exemplo.

O quão humanizada é a cesariana para a mulher pode variar de caso a caso. O que não varia, são as medidas e procedimentos necessários, além do bisturi, para que uma cirurgia cesariana ocorra. Ar condicionado. Luz cirúrgica. Cânula de aspiração. Cobertores. Glicose. Um susto e a separação.


Nosso corpo humano, muito sábio, ao entrar em trabalho de parto, sinaliza para o bebê que ele irá nascer, tanto por informações químicas/hormonais, como por informações mecânicas, através das contrações. Bebês que nascem via cesárea agendada não recebem essas informações e levam um grande susto ao serem retirados abruptamente, de forma completamente inesperada, do seu porto mais seguro: o útero. Saem do quentinho e aconchegante direto para um ambiente gelado com muitas mãos manipuladoras. Que susto! Sim, muito susto, medo e choro. Sabe-se que bebês que nascem de cesárea choram muito mais e por muito mais tempo que os bebês que nascem  de parto normal.


Além disso, toda sala cirúrgica, para controle de proliferação bacteriana, obrigatoriamente precisa estar com o ar condicionado ligado. Assim, a temperatura do ambiente no qual o bebê nasce é tão gelada que é necessário enrola-los em cobertores para não evoluirem com hipotermina. Diferentemente, no parto normal, a temperatura ambiente é propícia e ajustada para que, apenas o contato com a pele e o corpo da mãe, sejam suficientes para aquecê-lo. Bebês que nascem de parto normal vão direto para o colo e braços da mãe (ainda vou escrever um post sobre a importância e benefícios do contato pele-a-pele ao nascer).

Além de nascerem abruptamente, são separados da mãe por um cobertor e depois, pela distância necessária para serem aspirados. Choro. Dá pra ter idéia do medo e desespero do bichinho ao ficar longe da mamãe? Mais choro. Já postei este vídeo aqui uma vez, mas acho que vale a pena revê-lo:


                                       


Se não bastasse ainda, os bebês são aspirados. Levam um susto, são separados, e recebem procedimentos dolorosos. Mais e mais choro. A aspiração é feita por uma cânula que é introduzida pelas narinas e chega até a traquéia do bebê, para retirar o líquido aminiótico do pulmão. Durante o parto normal, o liquido é expulso automaticamente pela compressão da caixa torácica durante a passagem pelo canal vaginal; em alguns casos apenas o liquido que restou na boca é retirado pelo bulbo para que o bebê não engasgue.


 


Depois disso, enquanto a mãe é costurada, o bebê continua distante fisicamente de seu corpo.  Ficam distantes pois os dois passaram por procedimentos arriscados e precisam ficar em observação (todo bebê nascido por uma cesariana tem o risco de entrar em desconforto respiratório). Assim, ele fica impossibilitado de mamar e recebe glicose para que pare de chorar e não sinta fome. Além de ser praticamente a última pessoa a ver, conhecer e segurar seu filho pela primeira ver, em média no Brasil.  a mãe amamenta pela primeira vez após 10 horas (10 horas!). Mas tudo bem né, ele recebeu glicose e não está com fome. #sóquenão. A recomendação da OMS é que o bebê mame em até uma hora (uma hora!), após nascer. Não é à toa que cesariana já foi correlacionada com insucesso da amamentação, tanto em curto quanto a longo prazo. Mães que tiveram bebês por parto normal amamentam por muito mais tempo.


Diante de todo esse processo e sofrimento do bebê ao nascer por uma cesárea, muita teoria sobre possíveis traumas futuros têm surgido. "Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar o modo de nascer", essa frase do filme "O renascimento do parto" tem gerado muito debate. Receber ocitocina sintética afeta a capacidade de se conectar com o bebê e amá-lo para toda a vida? Já li de tudo, que sim e que não. Eu sinceramente tenho grandes dúvidas a respeito e desacredito. Eu e minha irmã nascemos de cesariana e eu estou para ver uma mãe que ame tanto suas filhas quanto a minha. Procedimentos dolorosos e o sofrimento da separação causam traumas futuros? E aí eu pergunto: e quando o bebê fica doente, então ele terá problemas psicológicos futuros?

Minha filha, com 6 meses de idade pegou catapora e como o olho dela também foi atingido pela catapora, passamos um dia inteiro no hospital fazendo exames doloridíssimos para verificar uma possível infeção na retina. Chorou. Ficou assustadíssima. Naquela noite ela acordou chorando por diversas vezes. Se assustava e empurrava minha mão para longe quando eu tentava lhe dar a chupeta, por umas sete noites consecutivas. Depois passou, mas ficará com traumas permanentes por causa deste episódio? Também desacredito.


Mas de uma coisa eu tenho certeza, se eu pudesse eu teria tido catapora no lugar dela, por ela. Tomaria todas as vacinas no lugar dela. Teria todas as dores de barriga do mundo só para que ela não tivesse nenhuma. Infelizmente eu não posso livrá-la de todas as dores do mundo, mas eu não permitiria que nem um fio de cabelo dela fosse arancado à força sem necessidade.


Pegaria todo sofrimento dela pra mim e não consigo imaginar eu optar por fazer ela sofrer nem por um minuto, mesmo que o dano à ela fosse apenas temporário, para que eu fosse livrada de alguma dor ou sofrimento. Tenho certeza que esse é o sentimento de todas as mães, independentemente do mundo como seus filhos vieram ao mundo. Porém, hora de decidir o momento do parto, um dos motivos pelo qual muitas mães optam pela cesariana é pelo medo da dor intra-parto e pós-parto, mas para fazer suas escolhas, muitas esqueceram e/ou não foram orientadas sobre as condições de nascer do seu próprio filho.


Só mais um parênteses: lembrem-se que parto normal pode vir acompanhado de anestesia e que, episiotomia, aquele corte doloridíssimo e mutilador no períneo que se fazia antigamente em todas as mulheres rotineiramente para facilitar a saída do bebê não é mais praticado. Portanto, hoje dificilmente um pós-parto é mais dolorido que um pós-cirúrgico.


Hoje você permitiria que alguém entrasse no quarto do seu filho, em meio à madrugada e o acordasse abruptamente, dando-lhe um susto? Você permitiria que seu filho recebesse glicose para que você pudesse dormir aquela noite inteira tão sonhada? Você permitiria que aspirassem seu filho por causa de uma gripe mesmo sabendo que, por exemplo, pingar uma solução salinica na narina tivesse o mesmo efeito? Com certeza não.


Acho essa reflexão muito válida, principalmente porque estamos falando de um momento super delicado e único: o nascer. Os primeiros minutos e primeiras horas de vida. O primeiro contato com a mãe. O primeiro contato com seu próprio filho. Vale a pena permitir os procedimentos e desconfortos de uma cesariana no seu filho para que você não sinta as dores ou possa ir de unhas pintadas e maquiagem feita para sair bonita na foto da maternidade?


A cesárea pode até ser humanizada para a mãe se ela tiver um G.O fofinho que a chame de mãezinha e faça um corte em sua barriga de apenas 10 centímetros, mas só existe uma maneira para que uma cesárea também seja humanizada para o bebê: quando a cirurgia é realizada para salvar a vida da mãe e/ou do bebê.


Nascimento humanizado é aquele que mãe e bebê são respeitados.




Este texto não é uma crítica às mulheres que fizeram cesariana por opção. Espero com ele apenas ajudar a conscientizar futuras mães sobre suas escolhas pois esse tipo de informação, no nosso país cesarista, não vem dos consultórios dos obstetras. Já foi o dia que nós mulheres podíamos nos preocupar apenas com o enxoval e com o chá de bebê. Informe-se e humanize-se.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pensando no futuro: Educação x Televisão

Dá para imaginar o assunto de marido e mulher em casa depois da chegada de um bebê? Sim: bebê. Passam o dia se questionando coisas tão simples. "Por que a gente esteriliza as chupetas, se os brinquedos e a mão dela, que não saem da boca, não?" As vezes chega ser até engraçado pois você comemora em alto tom e cantarolando coisas que jamais imaginaria comemorar na sua vida. "Oba, ela fez cocô!". E ainda termina com um "lá, lá, lá". Porém chega aquele momento em que o bebê está dormindo e vocês jantando tranquilos. E aí o assunto passa a ser mais sério. O Futuro.

Que tipo de escola vamos querer que ela frequente? Como fazer com que ela seja uma criança aberta, que compartilhe seus medos com a gente? Como ensinar sobre frustrações? Como torná-la uma criança, uma pessoa curiosa e com olhar atento ao mundo? Ou melhor, como vamos educá-la?

Em meio a opiniões, estratégias, ideias e troca de experiências, sempre caímos no mesmo assunto. Televisão. E aí nos deparamos com dois problemas. O primeiro é própria televisão, e o segundo é a posição da sociedade em relação a ela.

Que o primeiro é um problema, a principio vocês podem até achar que não, mas por exemplo, aqui nos EUA algumas escolas já colocam no contrato com os pais, como pré requisito para a matrícula, que eles proibirão seus filhos de assistir televisão. Agora, quando me refiro a sociedade como um problema é porque seus hábitos em relação à televisão são unânimes, ou melhor, quase unânimes.

Há alguns bons anos que eu já não assisto mais televisão. E quando digo isso, é sempre motivo de surpresa e algumas pessoas até se sentem criticadas (não deveriam). Imagina ainda quando o assunto é sobre crianças e televisão (não deveria também, mas nesse mundo da maternidade há muita rivalidade desnecessária entre as mães). E aí me preocupo que nossa filha tenha hábitos diferentes dos da sociedade. Claro que não pretendemos ser radicais e nem inflexíveis, mas se desestimularmos o uso da televisão em casa, será que ela se sentirá desconfortável em contar pros amigos? Até nós já fomos questionados de que seremos "super protetores".

Super proteção ou educação?

Já é muito bem descrito por pesquisadores que crianças sentadas na frente da televisão recebem diariamente um turbilhão de mensagens prontas que influenciam negativamente seu desempenho cognitivo, social e acadêmico.

Essas muitas informações prontas reduzem a capacidade de pensar, julgar, de analisar criticamente informações e comportamentos, reduz também criatividade e imaginação, pois a televisão deixa as crianças sonolentas, em um estado semi-hipnótico. Estudos feitos com eletroencefalograma mostraram que a atividade elétrica cerebral de uma criança assistindo televisão é a mesma de uma pessoa no escuro com olhos fechados, e se não há atividade cerebral, não há aprendizado.

Além disso, durante a noite, o sono, que deveria processar as informações (úteis) e experiencias vividas durante o dia, passa a processar o excesso de estímulo recebido da televisão, o que, segundo especialistas, influencia negativamente na qualidade do sono e consequentemente no desempenho escolar e na capacidade de se relacionar socialmente.

O problema é ainda maior quando falamos de bebês e crianças de até dois anos de idade. As muitas imagens, cores, luzes, sons e movimentos que a telinha transmite são estímulos intensos demais, maiores do que o cérebro deles é capaz de processar, causadores de hiperatividade, irritabilidade e dificuldade de concentração.

Além disso, a relação entre atividade motora e desenvolvimento cognitivo nos bebês é muito estreita. É explorando o mundo novo e cheio de novidades de forma ativa, por experiencias corporais, que eles desenvolvem sua capacidade mental. Só através da atividade motora. Bebês e crianças só aprendem brincando. E a televisão torna bebês e crianças passivos no momento mais crucial de suas vidas: no auge do seu desenvolvimento.

O incrível cérebro dos bebês, que possui mais conexões neurais do que os dos adultos, divide o mundo em duas partes: uma que reage à eles e outra que não, e o que não reage a eles não traz informação nenhuma, portanto não ensina. Um estudo realizado pela Universidade de Montreal no Canadá verificou que para cada hora que a criança passa na frente da televisão há redução de 6% no seu desempenho em matemática e de 7% na sua participação dentro da sala de aula.

Outro estudo realizado em Otago na Nova Zelandia, afirma que crianças que passam muito tempo na frente da televisão tendem a ter comportamentos agressivos ao longo da vida. Eles colocam ainda que para cada hora de televisão assistida, o risco de transtornos comportamentais na adolescência aumenta 44%.

E mais. O que ainda pode parecer um pouco subjetivo foi demostrado recentemente, por meio de ressonância magnética, que não é. O cérebro de quem assiste televisão é menos desenvolvido. Dessa vez a pesquisa foi feita na Universidade de Tohoku, no Japão e publicada em janeiro deste ano. Eles analisaram crianças que assistiam de zero a quatro horas de televisão por dia. Aquelas que passaram mais tempo na frente das telinhas apresentaram mais massa cinzenta no córtex pré-frontal do cérebro. Esse e outros trabalhos já demonstraram que cortex pré-frontal mais finos estão associados com o nível de QI e inteligência mais altos.

A Associação Americana de Pediatria (AAP) recomenda que bebês até dois anos não assistam nada de televisão. Recomenda também que, a partir de dois/três anos de idade, as crianças não assistam mais do que uma a duas horas de televisão por dia, mas o ideal é que os pais brinquem com eles em vez de deixá-los na frente da telinha. Se estiverem cansados ou ocupados, é muito melhor deixar o bebê sozinho com algum brinquedo, pois o brincar o ensina e estimula mais do que a televisão.  É brincando que se aprende ação e reação, tanto física quanto social.

Televisão no quarto?

A televisão por si só, como descrito em estudos, reduz o aprendizado da criança na escola, mas manter uma no quarto da criança pode ser ainda pior. Além de piores desempenhos escolares, possuir sua própria televisão está associado com menor interação familiar. A AAP recomenda claramente para "remover aparelhos de televisão dos quartos das crianças".

Já foi demostrado que crianças que assistem televisão aprendem menos na escola. Porém, um estudo feito na Universidade de Stanford e no centro de pesquisas Johns Hopkins verificou que crianças que possuem televisão no quarto aprendem menos ainda. Os autores encontratam em crianças que possuem televisão no quarto uma média de 7 a 9 pontos abaixo nas aptidões em matemática, artes e leitura, quando comparadas as crianças que assistem televisão, mas não tem uma para si. Os autores descrevem ainda que os danos educativos que ela causa superam os benefícios que os programas educativos poderiam trazer.

Manter uma televisão no quarto das crianças as mantém isoladas em seu próprio espaço, em seu mundo privado. Com cada membro da família em um cômodo, perde-se as conexões das atividades do lar, interação em família e consequentemente diminui-se as conexões afetivas entre todos. Cria-se isolamento entre pais e filhos.


Super proteção mesmo? 

Hoje eu tenho muito claro em minha mente, e com saudades, o porquê daqueles anos de praia durante minha infância terem sido tão preciosos. Porque não tínhamos televisão naquela casa. Era nos finais de semana que eu, minha irmã, minha mãe e meu pai, após um dia cheio, passávamos a noite juntos na rede, balançando e conversando por horas, curtindo o barulho dos grilos e o brilho dos vaga lumes, que naquela época ainda existiam. Era lá que eu e minha irmã brincávamos de cabaninha, fazíamos ovinhos de Páscoa com a terra do quintal e saímos perdidas pela rua para explorar terrenos abandonados. Quando faltava imaginação para as brincadeiras, saímos para um sorvete, para caminhar ou simplesmente sentávamos na varanda para ouvir o barulho do mar e comparar com o barulho das conchinhas, para ver as pessoas passarem ou apenas para curtir o céu estrelado. Sempre gostei de dormir tarde, e era lá que eu e meu pai ficávamos até altas horas da manhã questionando coisas simples da vida, filosofando e tentando imaginar o infinito do universo e a profundeza dos oceanos (sim, nós realmente fazíamos isso, não escrevi apenas para ficar bonito).

Super proteção não, e muito pelo contrário. Queremos libertá-la para o mundo da imaginação. Queremos libertá-la da alienação. Queremos libertá-la das telinhas fictícias para o mundo real.

Nossa princesinha ainda é muito pequenininha para que eu escreva agora a minha experiência como mãe, mas deixo aqui um relato muito interessante de uma mãe que resolveu abolir a televisão da sua casa:
http://antesqueelescrescam.com/2014/02/10/o-que-nos-ganhamos-quando-a-televisao-saiu-de-cena/
Essa é uma "homenagem" que o youtube fez para a Galinha Pintadinha.

Para ter o desenvolvimento pleno de todos os sentidos corporais, inclusive o intelectual, as crianças precisam se movimentar por horas, todos os dias. Não por vinte minutos e muito menos por apenas duas vezes na semana durante as aulas de judô ou ballet. Toda criança tem o direito de ter jogos de tabuleiro, de ter Legos, de brincar de faz-de-conta, correr na rua, brincar no pátio, subir em árvores, entrar em contato com a natureza. Toda criança tem o direito de ouvir uma história e criar suas próprias fantasias. Toda criança tem o direito de ser crinaça.

Leitura recomendada:
http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/efeitos-negativos-meios.html

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Cama compartilhada

Por que, em nossa sociedade, bebês dormirem com os pais é considerado um hábito anormal e inaceitável?

"Seu bebê não dorme no quarto dele? Tem alguma coisa errada com ele, mamãe, e você precisa ensiná-lo a dormir sozinho" - É o que muitos pediatras dizem por ai.


"Seu bebê dorme na sua cama? Coitados!" - É o que muitos comentam por aí.


Bebês não podem dormir com os pais? Por quê?


Por que vivemos numa sociedade "moderna"? Moderna porque hoje podemos criar bebês independentes? Moderna porque hoje os valores materiais são maiores que os valores afetivos? Moderna porque hoje, afeto físico entre pais e filhos, parentes e amigos é quase inexistente?


E aí, o pediatra responde: porque ele ficará mal acostumado e dependente.

Só que de moderno, esse conceito não tem nada. Vocês conhecem o experimento do pequeno Albert? Foi a partir desse experimento, de condicionamento emocional em bebês, que o afastamento físico entre pais e filhos começou a se espalhar.


Em 1920, em Nova York, Albert, um bebê de 8 meses, foi submetido a um experimento de condicionamento emocional por John Watson. Albert foi colocado em uma sala com um rato solto e a principio não demonstrou nenhum medo do animal. Porém, toda vez que o menino tentava tocar o rato, os experimentadores batiam um martelo uma barra de aço e o assustavam a ponto de faze-lo chorar. Após algumas repetições, Albert passou a fugir do rato, portanto foi condicionado a ter medo do animal. Esse condicionamento foi generalizado, pois Albert passou a ter medo de qualquer objeto peludo, e o dano causado foi permanente.

Com isso, John Watson passou a escrever sobre educação de crianças, mas seu foco principal foi sobre a importância de manter pais e filhos separados afetivamente para não estragá-los. Logo essa idéia tomou força pela necessidade de se criar bebês independentes por causa da inserção da mulher no mercado de trabalho e dos movimentos feministas.

A partir daí, métodos de fazer o bebê dormir foram criados. Deixar chorar, por exemplo. Funciona? Claro que funciona. Colocar o bebê acordado no berço para que pegue no sono sozinho, funciona? Também funciona. Assim como no experimento de John Watson, os bebês que são deixados no berço a noite para dormir, chorando ou não, se condicionam. Só que neste caso, bebês se condicionam a não contar com você.

Eles aprendem que não adianta chamar (chorar) pois você não virá. Eles aprendem que nas horas sombrias da noite, você não estará presente para protegê-lo e que terão que lidar com seus medos sozinhos. Eles aprendem, desde cedinho, que não tem amor e proteção sempre que precisam. Aprendem que não terão amor e proteção sempre que precisarem. Aprendem isolados na imensidão da noite. E o dano também é permanente.

"A noite é um abismo longo e escuro para os bebês terem que 
atravessar sozinhos" Laura Gutman

Se o medo é de torná-los dependentes, então estamos partindo do pressuposto que bebês nascem independentes? Antes mesmo de estudarem os danos que o afastamento físico pode trazer, a ideia de John Watson já havia sido espalhada pelo ocidente e o estrago feito. Porém, o que ficou esquecido em sua teoria é que bebês não se tornam dependentes, eles são dependentes. Dependentes tanto de cuidados físicos quanto emocional, portanto precisam ficar perto da mãe. Ficou-se esquecido que os bebês vieram do ventre materno, aconchegante e amoroso, mas tumultuado. Cheio de ruídos e movimentos. Ficou-se esquecido que bebês não estão preparados para ficarem sozinhos, em algum lugar sem vida.

Assim, hoje esquecemos das necessidades básicas de proximidade e afeto dos bebês. Esquecemos de levar em consideração seus medos e anseios. Priorizamos nossa autonomia e privacidade. Invertemos os valores e pagamos caro por isso. Fragilizamos os vínculos com nossa própria cria.


"Se você condicionar seu filho desde cedo que ele não pode contar
com seu contato físico, seja pelo colo ou pela sua presença afetuosa, 
então não estranhe se algum dia lhe faltarem abraços apertados"

Muito ao contrário do que se imagina, hoje há evidências científicas suficientes mostrando que crianças que dormem no mesmo quarto ou mesma cama que seus pais são menos medrosas, mais extrovertidas, corajosas, aventureiras, desenvoltas e independentes, e aquelas que são deixadas sozinhas são mais tímidas, ansiosas e mais medrosas. Crianças que dormem junto com os pais são mais apegadas a eles e principalmente mais apegadas às mães e portanto exploram o mundo com mais confiança. Apego não é sinônimo de dependência. Apego significa que há uma relação afetuosa mais estreita entre pais e filhos.

Além disso, cama compartilhada é sinônimo de bebê feliz. Sabemos que a noite é um momento de muito stress para um bebê, e pesquisas têm demonstrado que dormir junto reduz os níveis de hormônio cortisol (hormônio do stress) e aumenta os níveis de ocitocina (hormônio do amor) do bebê. Crianças e bebês que recebem amor dia e noite, que não precisam lidar com sensação de medo e abandono, se tornam adultos mais afetuosos, carinhosos, seguros, com maior auto-estima e que lidam melhor com desafios e frustrações da vida.

Psiquiatras da Universidade de Harvard recomendam para que bebês durmam junto com seus pais. Pesquisas feitas em Harvard tem demostrado que a separação e as experiências afetivas na infância podem ser determinantes e causar alterações na formação cerebral das crianças, como no hipocampo e amígdala (estruturas cerebrais relacionadas à memória, stress e ao comportamento emocional). Através de neuroimagens pesquisadores demonstraram que afeto materno está fortemente relacionado com o volume dessas estruturas e consequentemente com saúde emocional.

Há muitas outras vantagens que a cama compartilhada proporciona. Ela facilita a amamentação e favorece o descanso dos pais. A Universidade da Califórnia demonstrou que dormir junto melhora a qualidade do sono do bebê pois diminui o número de vezes que ele acorda durante a noite. Um estudo publicado na revista Biological Psychiatry mostrou que recém-nascidos que dormem afastados da mãe tem uma qualidade de sono pior de até 86% quando comparados com aqueles que dormem juntos com sua mãe. Além disso, cama compartilhada reduz o risco de morte súbita do recém-nascido pois há regulação do sistema límbico e diminuição dos níveis de apneia infantil quando o bebê está próximo à mãe. No Japão, onde cama compartilhada é praticamente uma norma cultural, o número de casos de morte súbita é aproximadamente um décimo do ocidente.

Por que nos preocupamos tanto em saber se um bebê já é independente e se ele já dorme sozinho? Não me incomodo, mas me intrigo muito com o fato de que até hoje, em todos os eventos sociais que vamos, as pessoas me perguntam se a Luli já dorme a noite inteira sozinha. Já dizia Montessori que as crianças são impulsionadas para a independência de forma natural. Um dia, todo bebê naturalmente, vai querer parar de mamar. Um dia, todo bebê, naturalmente, vai aprender a andar e sair do colo. Um dia, todo bebê, naturalmente vai querer parar de usar fraldas. Um dia, todo bebê, naturalmente vai querer dormir no seu próprio quarto.

Coitada de mim? Por quê?

Apesar de eu ter lido uns três livros com técnicas para fazer bebê dormir, desde que a Luli nasceu, nada de nada vinha à nossa cabeça na hora de colocá-la para dormir. Ninávamos infinitamente. Cantávamos para ela em nossos braços, a deixávamos dormindo em nosso colo, as vezes por horas, antes de colocá-la no berço pelo simples instinto de saber que era isso que ela precisava. E era isso que queríamos dar a ela. Colocá-la no berço sim nos trazia muita coisa à cabeça. Sensação de culpa por "abandoná-la" naquele cercadinho. 

Passaram-se os dois primeiros meses (época recomendada na literatura "moderna" para tirar o bebê do quarto) e eu nem sequer conseguia imaginar aquele serzinho minúsculo e indefeso, tão dependente de mim, dormindo sozinho em algum outro lugar, longe de mim.

Muito pelo contrário. Seu berço sempre esteve em nosso quarto e bem pertinho da gente, de onde ela conseguia ouvir minha respiração. Só não a colocávamos para dormir conosco por medo. Medo infundado. Medo porque trabalhos científicos cheios de viés saem na mídia. E a mídia sensacionalista coloca na primeira página que dormir com bebê aumenta risco de morte.

Todo bebê tem pequenos despertares entre seus ciclos de sono. Os que "dormem bem" é porque voltam a dormir sozinhos, os que não dormem é porque precisam de ajuda para entrar no próximo ciclo. A Luli quase nunca precisou ser embalada no meio da madrugada. Mesmo assim, quando ela completou mais ou menos três meses, não resistimos mais à tentação e passamos a colocá-la em nossa cama depois da mamada da madrugada. Simplesmente porque tínhamos vontade.

Foi aí que comecei a ganhar carinhos dela no meio da noite. Algumas vezes, ao virar de lado e se ajeitar na cama, ela coloca a mãozinha no meu rosto e abri um sorriso para, logo em seguida, fechar o olho e continuar a dormir tranquilamente. Que delícia! Bastou uma vez para querer todas as noites. E não há sensação melhor em saber que ela está dormindo feliz, se sentindo plenamente amada e protegida.

Quando ela completou quatro meses adotamos a cama compartilhada definitivamente. Li, li e li muito. Blogs, internet, artigos científicos e cheguei à conclusão de que a cama compartilhada, se feita de forma planejada, é segura e inclusive reduz risco de morte súbita do recém-nascido. Veja bem, morte por sufocamento com por exemplo, cobertores e protetores de berço, é diferente da morte súbita do recém-nascido, que é aquela em que o bebê simplesmente para de respirar. Por isso a cama compartilhada tem que ser planejada para evitar todos os riscos de morte por sufocamento.


Li muitos relatos em blogs de pais que optaram pela cama compartilhada e em média, a criança pede para dormir em seu próprio quarto com 2 anos. Já se foram quase seis meses com nossa Luli e, apesar da ansiedade de ver nossa menininha crescer, já me dói o coração de saudade apenas em pensar que eu não a terei mais como minha bebê. Bebês são bebês apenas uma vez e tudo passa tão rápido. Por que não aproveitar?


É incrível como a gente passa o dia todo ao lado dela e quando chega a noite, depois que ele dorme, a gente quer mais. Bate uma saudade. Assim, nossa cama compartilhada não foi só para ela. É para nós, mamãe e papai, também. Dormimos todos abraçadinhos e juntinhos e ainda por cima, de vez em quando, ganho um carinho dela no meio da noite.

Ah, e é assim que acordamos pela manhã também: com alguém apertando o nosso nariz.

Referências

Cama compartilhada tem que ser planejada para evitar todos os fatores de risco de sufocamento. Para saber mais, acesse: https://www.facebook.com/notes/solu%C3%A7%C3%B5es-para-noites-sem-choro/normas-gerais-de-seguran%C3%A7a-da-cama-compartilhada/301069299917486
Uvnas Moberg, 2003
Waynforth, 2007
Watson JB & Rayner R. Conditioned emotional reactions. Journal of Experimental Psychology (1920); 3: 1-14.
http://www.news.harvard.edu/gazette/1998/04.09/ChildrenNeedTou.html
http://pediatrics.aappublications.org/content/100/5/841.short
http://www.pnas.org/content/early/2012/01/24/1118003109.full.pdf

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Porque esperar a gestação completar pelo menos de 40 a 41 semanas?

Mesmo com toda a tecnologia disponível para o pré-natal, ainda não é possível determinar exatamente a data prevista do nascimento de um bebê. Por isso, determinou-se a média do período considerado termo, que é entre 38 e 42 semanas de gestação, como data provável do parto. Assim, a data provável do nascimento é o dia em que a gestante completa 40 semanas de gestação.

Durante muito tempo acreditou-se que as condições de saúde de um recém-nascido seriam as mesmas em qualquer momento dentro desse período, por isso muitas cesáreas eletivas eram agendadas com 38 ou até mesmo 37 semanas de gestação. Porém, novos estudos tem demostrado que cada semana de gestação é fundamental para o desenvolvimento completo do bebê.

Um estudo publicado em maio de 2013 na revista Pediatrics sugere que nascer antes da hora, mesmo que sutilmente, pode afetar o desenvolvimento cerebral de uma criança.

Os pesquisadores avaliaram 1.562 crianças e detectaram que, para cada semana adicional no útero, elas apresentaram 1,4 pontos a mais em testes psicomotores e 0,8 pontos a mais no desenvolvimento mental. Para elucidar essa diferença, os autores compararam os resultados com exposição ao chumbo. O atraso no desenvolvimento encontrado foi tanto quanto o observado quando há exposição a esse metal em baixo nível.

Eles concluiram que crianças nascidas após 39 semanas de gestação levam vantagens, e portanto, se não houver indicação real para interromper uma gestação antes deste período, o ideal é esperar entre 40 e 41 semanas para realizar uma indução ou cesárea eletiva, já que cada semana de gestação é fundamental.

O tempo de gestação definido como termo é em muitos lugares ainda considerado entre 37 e 42 semanas. Porém, a American College of Obstetricians and Gynecologists baseando-se neste estudo (e em outros que relatam menores problemas pulmonares, de audição e de aprendizagem com maior tempo de gestação) redefiniu a gestação a termo para entre 39 e 41 semanas.

Além de alterações no desenvolvimento, hoje sabe-se que interromper a gestação com 40 semanas também está associado com aumento da morbidade neonatal e complicações ao nascer como desconforto respiratório, icterícia e outras.

Mesmo com esses e outros benefícios para se esperar uma gestação completa, (pelo menos até 41 semanas), muitos obstetras brasileiros ainda consideram que com 40 semanas, deve-se interromper a gestação induzindo ou por meio de cesárea. Entretanto, sabe-se que os riscos até 41 semanas são semelhantes e passam a ter alguma modificação somente a partir desta semana. Por exemplo, o risco de morte neonatal em uma gestação de baixo risco até 41 semanas é de 0,1%. Somente a partir de 41 semanas esse risco aumenta discretamente, para 0,3%. Por isso, nesta nova classificação, determinou-se a nomenclatura "termo tardio" para gestação entre 41 e 42 semanas, e apenas após 42 semanas o recém-nascido é considerado pós-termo.

Referências:

sábado, 5 de abril de 2014

Em luto pelo caso Torres-RS - Versão 2

"Não era por vaidade que eu queria o parto natural, era uma questão de saúde mesmo. Era o melhor para mim", "Era para eu ter parado de ter filhos, mas errei com os remédios. Lembrei do médico falando que não era indicada para mim uma terceira cesárea. Ele foi o obstetra da nossa segunda filha", Adelir Carmen.



Aquele dia ficará em minha memória e na do meu marido para todo o sempre. O dia em que entrei em trabalho de parto.

Aquele dia foi inesquecível porque eu me conectava com meu próprio corpo de uma maneira única. Porque vivemos momentos mágicos em casa enquanto aguardávamos o parto evoluir. Passei horas com meu marido, apoiada por ele, recebendo massagem. Abraçados, íamos contando cada contração, sentindo ela se mexer. Assistimos também um filminho light e decidimos juntos a hora de ir para o hospital. 

Além de todo o romantismo, a gente ainda lavou a pequena louça do lanchinho da madrugada e molhamos as plantas. Antes de sairmos de casa, olhei para o berço dela e pensei que finalmente aquela seria a última vez que o veria vazio. Apagamos as luzes e saímos.

Fomos com muita ansiedade pela vontade de ter nossa filha nos braços. Fui sentindo meu corpo trabalhando para trazê-la ao mundo e me dizendo que agora eu estava preparada para me tornar mãe. Isso foi para mim, Patrícia, alcançar e viver a plenitude de ser mulher.

Eu não consigo nem sequer imaginar mais a minha vida sem essa página. Não consigo imaginar não poder contar essa história para minha filha. Não consigo imaginar como funcionaria minha mente daqui pra frente se eu tivesse sido escoltada por policiais armados e juiz como uma criminosa no momento mais sublime da minha vida.

Eu me ponho no lugar de Adelir e choro por dentro.

Passam os dias, a gente pensa e repensa e resolvi escrever de novo sobre o caso da Adelir. O motivo em voltar a esse assunto é que, naquele primeiro post eu ainda estava exaltada e talvez eu tenha me equivocado em focar tanto no ponto dos riscos que aquela gestante poderia ou não estar sofrendo. O que parecia óbvio para mim, tanto que coloquei em apenas duas linhas, não parece óbvio para outros: princípios constitucionais de liberdade.

A questão toda não envolve riscos, envolve direitos e preconceitos. (pois já está bem evidenciado que aquela gestante, com duas cesáreas prévias e aquele bebê sentado, não teriam riscos significativamente maiores pelo parto normal comparado com cesárea, muito menos estavam em risco iminente de morte).

Voltando à minha história... com 41 semanas de gestação, esperando para um parto normal, cheguei a discutir com meu médico opções para intervirmos, pois estávamos perto do final do que ainda é considerado termo. Indução ou cesárea foram as opções que ele me deu. Já sabia que iria querer cesárea e quando coloquei isso para ele, na hora (como sempre), ele me encheu de estatísticas e artigos que provavam que induzir traria menores riscos para mim e para minha bebê. O que eu respondi? Cesárea, vou querer cesárea. 

Hoje eu me pergunto porque essa seria minha decisão? Eu não sei. Acho que eu preferiria passar pelos riscos (mesmo que maiores) que a cesárea traria do que os que a indução (mesmo que menores) traria, que são completamente diferentes. Talvez porque os números por si só não estavam sendo capazes de vencer meus medos e preconceitos. Medos e preconceitos baseados nos mitos que a própria população cria contando seus casos individuais, que a industria farmacêutica cria pelos seus interesses financeiros e que a equipe da saúde cria pelos seus interesses pessoais.


E é nisso que quero chegar: preconceitos. A banalização da cesárea no Brasil é tamanha que ninguém acredita mais que uma mulher é capaz de parir naturalmente e que o parto normal é seguro. É tamanha que ninguém mais, nem os próprios médicos, acredita nos riscos potenciais que a cesariana traz. E a partir daí, cesariana no Brasil virou solução para todos os casos; ela de fato soluciona alguns, mas traz outros riscos tão sérios quantos ou mais. A partir daí criou-se o preconceito. Parto normal virou coisa de "bicho", parto sem anestesia virou coisa de "índio" e cesariana eletiva virou coisa de "menos mãe".


Só que você não querer para si próprio parto normal e/ou não acreditar que é possível, não te dá o direito de julgar, baseado nos seus preconceitos, a decisão da Adelir e muito menos intervir de maneira arbitrária

Assim como os riscos em fazer uma indução eram menores do que a cesariana no meu caso, eu ainda tinha a opção. A escolha seria minha. Liberdade. Como no caso da Adelir, no qual os riscos para um parto normal eram infimamente maiores caso ela optasse por uma cesárea, ela deveria ter tido o direito de decidir. Porém, a condução do seu caso feriu os princípios éticos constitucionais de liberdade e da profissão médica:

Código de ética médica:

   
Capítulo IV: Direitos humanos: 
       Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte.
Capítulo V: Relação com pacientes e familiares:
       Art.31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte.

Além disso, sabemos que o caso Adelir era especial. Envolvia uma situação emocional delicada: era uma mulher com um trauma de duas cesarianas previas indesejadas. Envolvia um caso clínico difícil no qual qualquer médico teria todo o direito de recusar a atender e poderiam, por exemplo, chamar uma equipe médica especializada em parto normal para bebê pélvico. Poderiam até mesmo acionar a equipe da psicologia já que acreditavam que realmente a gestante estava se submetendo a sérios riscos. Poderiam muita coisa, menos chamarem a polícia. Não poderiam sobrepôr suas opiniões pessoais ao direito da paciente, garantido por lei.

As pessoas que aprovam o ocorrido questionam: e se algo acontecesse com a mãe e o bebê caso fizessem parto natural? Eu então pergunto: e se tivesse acontecido alguma coisa com eles durante a cesárea? Quem seriam os responsáveis? Quem seriam os culpados? Ninguém. Não é o caso de procurarmos culpados. Nenhum médico e nenhum paciente é culpado pelas milhares de complicações e mortes maternas e neonatais que ocorrem no Brasil tanto em partos normais como em partos cesáreas, tanto em caso simples quanto em casos complicados. Porque nenhuma gestação é isenta de riscos. 

Assim, o caso de Adelir passou a a ser especulado, apenas porque virou caso de polícia, virou um caso publico. Quem é o culpado pelo bebê que nasceu ontem de cesariana eletiva e foi parar na UTI com desconforto respiratório, a complicação mais comum decorrente da cirurgia? "Ah, que bebê? Nem to sabendo..."

Se o seu preconceito ainda te faz pensar que duas vidas foram salvas da maneira como o caso foi abordado, mesmo com todas as evidências de que a mãe e o bebê não estavam em riscos reais para indicar uma cesariana, então eu te pergunto:

A favor do que você é, caso Adelir tivesse desobedecido a ordem judicial e se recusado a ir com os policiais? Que a levassem para depor na delegacia em pleno trabalho de parto? Que fosse detida em uma cela em trabalho de parto? Que atirassem nela (pois ainda não entendo porque os policiais foram armados), para "salvar" o bebê? Ela foi submetida à repressão. Sem escolha, ela teve que obedecer, porque muito sã da mente ela estava, então sabia que se batesse de frente naquele momento aí sim estaria colocando a vida dela e a de um nascituro em risco iminente de morte.

Se nós, homens e mulheres, seres humanos, permitirmos e apoiamos essa barbaridade e julgamos necessária a arbitragem para diminuir riscos mesmo que ínfimos, então devemos lutar para que cesariana eletiva seja proibida. Cesariana causa 2,5 vezes mais risco de morte ao bebê do que parto normal.

Devemos lutar para que gestantes que fumam ou usuárias de álcool sejam presas e fiquem em observação por nove meses para garantir que não farão uso dessas drogas, pois como sabido, causam risco de morte fetal, aborto espontâneo, parto prematuro e más formações congênitas sérias.

Devemos lutar para que homens e mulheres sejam obrigados a doar seus rins, para salvar a vida de uma criança, que está em risco.

Devemos lutar para que McDonald´s e Coca-cola sejam proibidos pois como sabido, doenças cardiovasculares são as que mais matam no Brasil e no mundo.

Devemos lutar para que gestantes, querendo ou não, sejam acompanhadas por doulas, pois sabe-se que a presença delas reduz 14% risco de internação do nascituro e 28% número de cesáreas desnecessárias.

Falando em doulas, fico tristíssima quando escuto que doula é modinha. É por pensamentos como este que médico, enfermeiro, fisioterapeuta, doula, nutricionista, psicólogos e outros nunca saberão trabalhar em equipe. É por pensamentos como esse que casos como o de Adelir ocorrem. Até mesmo profissionais da saúde estão questionando a importância de uma doula. Contraditoriamente, esses mesmos profissionais acham ruim que a sua categoria em questão é desvalorizada.

E esse também não é um caso de idealismos "parto normal x cesárea". Eu jamais optaria por uma cesárea eletiva, por motivos que já até expus aqui no blog, mas nem por isso julgo quem faz. Assim, se você é contra parto normal, não me julguem e nem julguem Adelir, até mesmo porque se você apoia o que foi feito contra ela, você apoia violência contra você mesma. Violência obstétrica é violência contra mulher, portanto você pode ser a próxima, pois esse caso abre precedentes para qualquer outro. 

Assim, um ou dez policiais poderão bater em sua porta, te obrigando a episiotomia, a parto normal, a cesárea, a ficar em casa, a ir para o hospital ou para a montanha, a ir para a banheira, a ficar na cama, a engravidar, a abortar... baseados na opinião de uma médica. Acordem. Somos todas Adelir!(http://somostodxsadelir.wordpress.com/)

Depois dessa semana cheia de violência e acusações, agora eu só consigo pensar nas minhas plantinhas molhadas às três da manhã. Elas me fazem lembrar que em pleno século 21, mulheres ainda não são tratadas como seres humanos. Agora minhas plantinhas me fazem lembrar que ainda temos que lutar para que possamos molhá-las e apagar a luz antes de sair de casa para dar à luz.


Veja o nascimento da Mariana, por parto natural hospitalar, pélvico:
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Um breve resumo do caso Adelir, se você não estiver por dentro do que está acontecendo:

Uma gestante de 42 semanas, em trabalho de parto foi retirada de casa a força por policiais e mandado judicial para ir ao hospital fazer uma cesariana, contra sua vontade. A gestante estava em casa, aguardando a evolução do parto para ir ao hospital, onde desejava ter parto normal. Gestante com histórico de duas cesáreas prévias e bebê pélvico (sentado). Gestante e bebê clinicamente estáveis conforme ultrassom realizado na data do ocorrido.

Gestação a termo por definição: 37 a 42 semanas.
Bebê pélvico (sentado): Indicação para parto normal pela Organização Mundial da Saúde e American College of Obstetricians and Gynecologists, com equipe especializada.
Risco de morte fetal em apresentação pélvica por cesariana: 2,3%
Risco de morte fetal em apresentação pélvica por parto normal: 2,5%
Risco de ruptura uterina em parto normal após cesárea: 0,5 a 1%, ou seja chance de até 99,5% de sucesso. 
Risco de histerectomia em parto normal após duas cesáreas: 0,6%
Risco de histerectomia em cesárea após duas cesáreas: 1%
Outros riscos maternos em parto normal após duas ou mais cesáreas aumentam tanto quanto os riscos em cesárea após duas ou mais cesáreas. Os riscos no caso da cesária também incluem hemorragias, além de lesões na bexiga, intestino e outros. Por isso, a possibilidade de parto normal após uma cesárea se estendeu para duas ou mais cesáreas.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Em luto pelo caso Torres-RS

Justiça do RS manda grávida fazer cesariana contra sua vontade...

Ontem à noite li em um blog esta notícia de que uma mulher grávida de quase 42 semanas, em trabalho de parto, foi tirada a força de casa por 10 policiais armados e com mandado judicial para que fizesse uma cesárea no hospital, o que agora está se transformando no caso Torres-RS.

Tive que ler várias vezes pois eu não conseguia acreditar. Fiquei chocada. Fui dormir e só conseguia pensar "que absurdo.. que absurdo do absurdo". Não conseguia nem organizar a minha mente me imaginando no lugar dessa mãe que sofreu tamanha crueldade e violência.




Hoje pela manhã a notícia já estava bem espalhada pelos jornais, facebook, etc. E continuo me chocando cada vez mais quando leio os comentários daquelas pessoas que, além de fascistas, não se dão nem ao trabalho de buscar informação antes de palpitar.




Se você é uma delas, que acha que esses médicos e essa juíza salvaram duas vidas, sinto muito por você, mas como ainda tenho esperança na humanidade, vou tentar esclarecer um pouco o que aconteceu para que, com a força da informação, as pessoas envolvidas sejam punidas.

Para começar, nós mulheres temos direito sobre o nosso próprio corpo. Pronto. Só isso deveria bastar.


Ah, mas aí vem um dizendo que era uma gestação perigosa...

Querido, nenhum útero vai explodir assim se a mulher tem histórico de cesárea prévia, como alegado pela médica, atualize-se. O risco é baixíssimo (0,5% a 1%). Isso é o que a médica deveria saber, que até eu que não sou médica, sei. Não há risco para parto normal, como se pensava antigamente, caso a mulher já tenha sido submetida a uma ou mais cesarianas.

Depois, não há motivo e indicação em fazer ultrassonografia no momento do parto. Será que a médica estava buscando pelo em casca de ovo? Não sei. Porém, acho muito estranho ela alegar que o bebê estava sentado e não querer mostras as imagens, além de ser antiético, ela descumpriu completamente a lei. Portanto, boa intenção ela não tinha. Até mesmo porque, os últimos exames que a gestante fez, com 39 semanas de gestação, vieram absolutamente normais.

Outros vem dizendo que, se ela já teve histórico de 2 cesáreas é porque alguma complicação deveria ter nessa gestação também. Querido (mais uma vez), ela justamente quis aguardar o parto evoluir em casa antes de voltar ao hospital para não ser vítima de uma desneCesárea pela terceira vez! Os motivos das suas cesarianas prévias foram que ela tinha alcançado 40 semanas de gestação. Nenhum, mas absolutamente nenhum bebê passa do ponto porque chegou em 40 semanas. A gestação normal vai até 42 semanas. Deu para entender?

Se não entendeu, vejamos as evidências. Uma revisão sistemática (que é um trabalho cientifico com maior nível de evidencia possível), de 2012, avaliou 9383 partos e verificou que de 41 ate 42 semanas o risco de complicações fetais é absolutamente pequeno. Tão pequeno que os autores colocam no final que cabe à mulher, levando em consideração preferências e expectativas, e não ao médico, decidir se aguarda mais a gestação finalizar (até as 42 semanas se completarem) ou interromper, induzindo o parto ou fazendo a cesariana.

Por último, para aqueles que dizem que ela é leiga e estava colocando a vida do bebê em risco, só uma coisa a dizer: ela estava acompanhada de uma profissional especializada e capacitada, e se ela optou e buscou parto normal, é porque buscou informação e venceu os preconceitos e os mitos que fazem do Brasil o país campeão mundial de cesáreas desnecessárias. Parabéns para ela que foi muito inteligente!

Alegaram direito ao nascituro.. mas sem provas, destruíram e roubaram mais um parto. Um parto que começou cheio de amor e desejos, em casa, no escuro e rodeado de velas, terminou com mãe arrastada pela polícia, amarrada na mesa cirúrgica e cheio de holofotes.

Que a justiça seja feita e essa mãe tenha força para superar esse trauma..

Faço minha parte que é divulgar o nome dessa médica:
https://www.facebook.com/andreia.castro.90?ref=ts&fref=ts

Esse é um dos médicos que participou da cesárea. e sua opinião:
https://www.facebook.com/marioggk


A juíza: Liliane Maria Mog da Silva

E que interessante... A juíza (que de juízo não tem nada) é amiga do marido da médica...

E por fim, um relato esclarecedor, inclusive sobre partos em caso de bebês sentados, de uma obstetra de luto:
https://www.facebook.com/notes/carla-andreucci-polido/arbitrariedade-e-incompetência/10200716428592734

Para saber mais sobre o caso, acesse:
http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/04/02/noticia_saudeplena,148157/mandado-judicial-retira-mae-em-trabalho-de-parto-de-casa-para-obriga.shtml