Os bebês não nascem sabendo sentar, não nascem sabendo falar, não nascem sabendo andar, não nascem sabendo mandar beijinhos e nem bater palminhas. A única coisa que eles nascem sabendo fazer, além de chorar, é sugar. Nem chupeta e nem mamadeira. Apenas o peito materno. É instintivo. É o que eles querem. Leite da mamãe. E se eles tem o que querem sentem-se seguros, protegidos e amados.
Aguardei ansiosamente durante toda a minha gestação a nossa primeira mamada juntas. O que eu mais desejava profundamente era ser capaz de poder amamentá-la, de dar o melhor para ela, de fazê-la crescer saudável através de mim mesma, como sempre foi, desde que estava na minha barriga.
Foi ainda na sala de parto, depois de apenas 20 minutos dela ter nascido, que senti pela primeira vez que amentar vai além de oferecer leite. Não estava dando a ela apenas alimento. Estava dando o que ela precisava e queria: o meu leite. Porque ele vai junto com o sentimento de que eu estou aqui e cuidando dela. Cuidando porque amo.
Aquele momento mágico durou um pouco mais de uma hora. Ela foi conhecendo meu cheiro, minha voz, meu toque, eu ia a conhecendo devagar. Examinei, sua orelhinha, seu cabelo, seus dedinhos, olhinhos, mas o mais importante é que eu não a apressei. Deixei ela lá para que percebesse que eu estaria sempre disponível para ela, sempre que precisasse, por ela.
Amamentar não é trivial, envolve tempo, dedicação, paciência, aprendizado, dor (tive muita no começo, mas passa) e muitas madrugadas. E até hoje, durante esses quase quatro meses, nem tudo foi tão fácil.
Depois de mais ou menos três semanas de amamentação com sucesso, a Luli começou a ficar irritada no final de cada mamada. Nossa rotina era: eu oferecia um peito quando ela queria, trocava fralda e depois oferecia o outro, e foi depois da troca de fralda que ela começou a brigar comigo. Pegava o peito e se jogava para trás, pegava e chorava, pegava e se debatia. Não entendia esse comportamento entre pegar e soltar, querer e não querer. E ai começou aquele sentimento de frustração.
Marcamos uma hora com uma consultora de lactação. Após muita conversa, fomos ver na prática o que estava acontecendo. Conforme a Luli ia mamando, íamos parando a colocando na balança. Bingo! Santa balança ultra sensível que tem naquele consultório. Em alguns minutos a Luli já havia mamado 140 ml de leite e de apenas um lado. Para quem não sabe (eu também não sabia), o normal para a idade dela na época é de 90ml a 120ml. Santa balança e santa produção de leite a minha.
Mas o mais importante foi o que a consultora nos orientou a partir de então. "Se depois que ela mamar um lado e você trocar a fralda, ela ainda continuar pedindo o peito, dê o mesmo lado. Ele já não estará tão cheio de leite, então o fluxo será menor. Ela provavelmente não quer mais leite, por isso se irrita. Só quer ficar juntinho de você".
Voltei para casa renovada e assim segui: a cada mamada um peito só (por isso que essas receitinhas prontas de livro, 20 minutos de cada lado, não funcionam.). Não sei o que me deixava mais feliz, amamentação tranquila restabelecida, saber que ela queria ficar juntinho de mim ou o que passei a receber dela em troca. Ah aqueles sorrisinhos gostosos...
Depois da troca de fralda passei a dar o mesmo peito e enquanto ela ia sugando, sonolenta e do jeitinho que ela queria, parava por vezes para dar aquele sorrisinho. Aquele que faz o olhinho dela ficar fininho, fininho. Aquele ainda com uma pocinha de leite na boca e que agora ia escorrendo pela sua bochecha. Esse é o amor que recebo de volta dela. Que recebo como uma forma que ela tem de dizer obrigada.
E assim fomos até ela completar dois meses e meio. De repente, de um dia para o outro, ela passou a mamar menos, algo em torno de três a quatro vezes em 24 horas. Fomos até a médica só para constatar algo que já sabíamos. Não, ela não estava doente. Nem sinal de uma virose qualquer. Ela simplesmente não tinha fome. Mesmo oferendo para ela depois de cinco horas sem comer, ela se afastava e resmungava. Nada fazia ela mamar se não quisesse, e se não tem bebê mamando não tem corpo produzindo leite.
Ligamos para nossa consultora de lactação que me orientou a tirar leite pela bomba de hora em hora, para estimular o máximo que eu puder, pois uma vez que o leite seca, é muito difícil voltar. E lá fui eu usar a bomba pela primeira vez. Já havia mais de 4 horas que a Luli tinha mamado e eu só consegui tirar 15 ml de leite dos dois lados juntos. Fiquei olhando aquele potinho vazio por alguns minutos sem ainda acreditar. E foi assim por alguns dias consecutivos. Eu não saia do sofá e a bomba não saía de mim. Para cada gota de leite, uma lágrima e um abraço do meu marido. Cada míseros 15 ou 20 ml que eu conseguia tirar, um sentimento de impotência e pavor começaram a tomar conta de mim, pensando que aquela semana poderia ser a última em que eu iria amamentar minha filha.
Até hoje ninguém sabe o que aconteceu, nem as médicas e nem nós. Felizmente depois de muitas bombeadas e de beber muitos litros de água, minha produção de leite começou a subir devagar e, da mesma maneira como a Luisa tinha parado de mamar, de um dia para outro ela voltou a querer mamar regularmente.
Valeu cada minuto de esforço. Valeu o apoio do meu marido que ficou do meu lado e me ajudou o tempo todo. Valeu a sabedoria e consciência da minha médica que nos deu a chance e nunca me aconselhou a dar fórmula durante os dias em que ela se alimentava mal. Naquela semana a Luisa não ganhou peso, mas enquanto ela mantinha sinais de que estava hidratada, não era necessária nenhuma intervenção.
E assim vamos até hoje, com amamentação exclusiva no peito, e à hora que ela quer. A única coisa que mudou é a maneira como ela mama. Na última visita à consultora de lactação, constatamos que ela mama 120ml de um único lado em apenas quatro minutos. Mais uma vez a receitinha de 20 minutos em cada lado não funcionou com a gente. Ela mama tudo bem rapidinho, as vezes em três, as vezes em cinco minutos. Porém dessa vez, quando está satisfeita, se afasta para olhar pra mim e dar suas gargalhadinhas e gritinhos. O seu obrigada.
E assim eu quero ir. Se nada mudar, quero ir até quando meu corpo conseguir. Vou fazer o possível e o impossível para conseguir até quando ela quiser. Não me importarei com pré-conceitos de que criança grande amamentando é feio, é dependente. Não, não é. Inclusive esse é um assunto bem abrangente e delicado que vou discutir em um próximo post. E o que a Organização Mundial da Saúde recomenda é amamentação até os 2 anos de idade e por no mínimo 6 meses. No mínimo e não até 6 meses.
Se meu corpo não conseguir ir até onde ela quiser, tudo bem. Amamentar não é a única forma de dar amor e muito menos vou deixar de amá-la, mas vou ter que aprender a lidar com isso. Vou continuar admirando aquelas que conseguem e também aquelas que nunca puderam amamentar por qualquer que tenha sido o motivo, físico ou social. E dou uma dica para aquelas que também passarem por dificuldades. Consultem sim uma especialista, pois isso não é modinha da modernidade. A amamentação não é trivial e nenhum livro é capaz de dizer o quanto e como é a melhor maneira de amamentar seu filho. Não desistam. Vale cada esforço, pois cada mamada é um filho crescendo, uma troca de afeto e um vínculo fortalecido.
Em cada mamada, um momento tão nosso. Ela se amamenta de leite e nós de amor. Eu e ela.
Mas o mais importante foi o que a consultora nos orientou a partir de então. "Se depois que ela mamar um lado e você trocar a fralda, ela ainda continuar pedindo o peito, dê o mesmo lado. Ele já não estará tão cheio de leite, então o fluxo será menor. Ela provavelmente não quer mais leite, por isso se irrita. Só quer ficar juntinho de você".
Voltei para casa renovada e assim segui: a cada mamada um peito só (por isso que essas receitinhas prontas de livro, 20 minutos de cada lado, não funcionam.). Não sei o que me deixava mais feliz, amamentação tranquila restabelecida, saber que ela queria ficar juntinho de mim ou o que passei a receber dela em troca. Ah aqueles sorrisinhos gostosos...
Depois da troca de fralda passei a dar o mesmo peito e enquanto ela ia sugando, sonolenta e do jeitinho que ela queria, parava por vezes para dar aquele sorrisinho. Aquele que faz o olhinho dela ficar fininho, fininho. Aquele ainda com uma pocinha de leite na boca e que agora ia escorrendo pela sua bochecha. Esse é o amor que recebo de volta dela. Que recebo como uma forma que ela tem de dizer obrigada.
E assim fomos até ela completar dois meses e meio. De repente, de um dia para o outro, ela passou a mamar menos, algo em torno de três a quatro vezes em 24 horas. Fomos até a médica só para constatar algo que já sabíamos. Não, ela não estava doente. Nem sinal de uma virose qualquer. Ela simplesmente não tinha fome. Mesmo oferendo para ela depois de cinco horas sem comer, ela se afastava e resmungava. Nada fazia ela mamar se não quisesse, e se não tem bebê mamando não tem corpo produzindo leite.
Ligamos para nossa consultora de lactação que me orientou a tirar leite pela bomba de hora em hora, para estimular o máximo que eu puder, pois uma vez que o leite seca, é muito difícil voltar. E lá fui eu usar a bomba pela primeira vez. Já havia mais de 4 horas que a Luli tinha mamado e eu só consegui tirar 15 ml de leite dos dois lados juntos. Fiquei olhando aquele potinho vazio por alguns minutos sem ainda acreditar. E foi assim por alguns dias consecutivos. Eu não saia do sofá e a bomba não saía de mim. Para cada gota de leite, uma lágrima e um abraço do meu marido. Cada míseros 15 ou 20 ml que eu conseguia tirar, um sentimento de impotência e pavor começaram a tomar conta de mim, pensando que aquela semana poderia ser a última em que eu iria amamentar minha filha.
Até hoje ninguém sabe o que aconteceu, nem as médicas e nem nós. Felizmente depois de muitas bombeadas e de beber muitos litros de água, minha produção de leite começou a subir devagar e, da mesma maneira como a Luisa tinha parado de mamar, de um dia para outro ela voltou a querer mamar regularmente.
Valeu cada minuto de esforço. Valeu o apoio do meu marido que ficou do meu lado e me ajudou o tempo todo. Valeu a sabedoria e consciência da minha médica que nos deu a chance e nunca me aconselhou a dar fórmula durante os dias em que ela se alimentava mal. Naquela semana a Luisa não ganhou peso, mas enquanto ela mantinha sinais de que estava hidratada, não era necessária nenhuma intervenção.
E assim vamos até hoje, com amamentação exclusiva no peito, e à hora que ela quer. A única coisa que mudou é a maneira como ela mama. Na última visita à consultora de lactação, constatamos que ela mama 120ml de um único lado em apenas quatro minutos. Mais uma vez a receitinha de 20 minutos em cada lado não funcionou com a gente. Ela mama tudo bem rapidinho, as vezes em três, as vezes em cinco minutos. Porém dessa vez, quando está satisfeita, se afasta para olhar pra mim e dar suas gargalhadinhas e gritinhos. O seu obrigada.
E assim eu quero ir. Se nada mudar, quero ir até quando meu corpo conseguir. Vou fazer o possível e o impossível para conseguir até quando ela quiser. Não me importarei com pré-conceitos de que criança grande amamentando é feio, é dependente. Não, não é. Inclusive esse é um assunto bem abrangente e delicado que vou discutir em um próximo post. E o que a Organização Mundial da Saúde recomenda é amamentação até os 2 anos de idade e por no mínimo 6 meses. No mínimo e não até 6 meses.
Se meu corpo não conseguir ir até onde ela quiser, tudo bem. Amamentar não é a única forma de dar amor e muito menos vou deixar de amá-la, mas vou ter que aprender a lidar com isso. Vou continuar admirando aquelas que conseguem e também aquelas que nunca puderam amamentar por qualquer que tenha sido o motivo, físico ou social. E dou uma dica para aquelas que também passarem por dificuldades. Consultem sim uma especialista, pois isso não é modinha da modernidade. A amamentação não é trivial e nenhum livro é capaz de dizer o quanto e como é a melhor maneira de amamentar seu filho. Não desistam. Vale cada esforço, pois cada mamada é um filho crescendo, uma troca de afeto e um vínculo fortalecido.
Em cada mamada, um momento tão nosso. Ela se amamenta de leite e nós de amor. Eu e ela.