terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Paternidade x Paternagem

O dia em que tudo mudou? Foi aquele dia em que ele recebeu a notícia. Eu estava grávida, ou melhor, estávamos grávidos. Chorou por trinta minutos sem parar e eu mal conseguia acalmá-lo. No dia seguinte, saiu correndo para comprar um bichinho de pelúcia, um coelhinho, e dizia que não via a hora de brincar com o bebê.

Em pouco tempo comprou um, dois, três livros sobre ser pai, mas logo abandonou todos eles. Não conseguia encontrar o que queria. Queria algo além das trocas de fralda, de como colocar para arrotar ou como escolher um seguro saúde para o bebê. Mal sabia ele que já tinha dentro de si o que buscava.

Mas então, qual o papel do pai?

Li um livro muito bom e interessante chamado "Maternidade e o encontro com a própria sombra", mas discordo com algumas coisas que a autora coloca e principalmente quando coloca sobre o papel do pai, "O pai não tem de exercer a maternidade, tem de apoiar a mãe em seu papel de maternidade"

Que é verdade que toda mãe precisa do apoio emocional do homem, sem dúvida. Que uma mãozinha é sempre bem-vinda para trocar a fralda, dar banho ou ninar, principalmente quando a mãe está exausta, também. Porém, o envolvimento emocional dele com o bebê é importante não só para a criança e para ele, mas para a própria mãe.

Hoje discute-se muito a diferença entre paternidade e paternagem. Paternidade é o ato biológico de gerar um filho. Paternagem envolve a criação de um filho com amor, envolve participar ativamente do preparo deles para a vida, envolve criar uma família onde a troca de afeto é mútua entre todos. E é esse o verdadeiro papel do pai, que é muito, mas muito além das trocas de fralda.

Foi-se o dia em que o papel do pai era apenas sustentar o lar, mas para a paternagem se estabelecer completamente, ainda temos um grande caminho a percorrer. Não existe pré natal para os pais. Não existe licença paternidade (me desculpem, mas cinco dias corridos não são licença paternidade). Não existe aquele pai totalmente livre de preconceito da sociedade, dos amigos, quando demonstra afeto ou faz algo especial para o filho. São os próprios homens vítimas de uma sociedade machista.

Assim meu marido aceitou a mudança que a chegada da nossa Luisa traria para sua vida. Participativo. Conversava e fazia planos com ela enquanto ela ainda estava na minha barriga. Queria saber tudo sobre o pré natal, o parto e tomar as decisões junto comigo. Em meio a passeios e viagens comentava que não via a hora dela chegar. Esse dia chegou, e a partir dele tornei-me mais enriquecida, pela chegada da minha filha e pela construção de uma família plena, na qual meu marido busca, como sempre buscou, ser um pai ativo. A partir dele me tornei mais feliz.

Me torno mais feliz quando o vejo sair correndo para ver a Luli assim que ela acorda. Quando a gente disputa na brincadeira quem vai empurrar o carrinho dela na rua. Quando ele a carrega em seus braços cantando por horas enquanto ela fixa o olhar nele admirando-o. Feliz sou eu quando ele muda o tom de voz para conversar com ela, daquele jeitinho fininho e carinhoso que os bebês adoram. Quando se preocupa se está confortável a roupa que ela está vestindo. Quando ele planeja e se preocupa com o futuro. Feliz sou eu quando ele questiona sobre colocar brincos nela para não vê-la chorar. Quando ele pede para esperá-lo chegar para o banho, mesmo que seja só para ficar olhando. Quando ele amamenta junto comigo. Quando encontro eles assim, abraçadinhos na cama. Feliz sou eu por vê-lo derramar uma lágrima ao receber um sorriso dela.

Mal sabe ele, mas pelas manhãs assim que a Luli acorda e ele a pega do berço para brincar com ela enquanto eu descanso mais um pouco, muitas vezes não volto a dormir. Fico namorando de longe o jeitinho como ele brinca com ela enquanto ela vai dando seus gritinhos de alegria.

Sim, aquele dia muita coisa mudou. Como todos dizem, o casamento muda com a chegada de um bebê. Muda porque você passa a admirar seu marido também pela forma como ele cuida do seu filho. 

2 comentários:

  1. Linda homenagem Paty. Parabéns André. Bjs

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  2. Que lindo esse texto e que bom saber que o André é esse pai super amoroso e participativo, embora eu sempre tivesse a certeza de que ele seria assim. Vc também tem muito mérito nisso Paty pois essa relação se estabelece a partir de um vínculo profundo do casal. E que pena saber que mtas mulheres e mtos bebês não podem usufrir disso, seja porque os pais não estão presentes ou pq, como você mesma diz, mtos homens se privam disso por puro machismo. Alguns pais não dão bonecas para seus filhos brincarem com temor de que eles se tornem gays e eu sempre digo que eles provavelmente vão se tornar bons pais. Bjs.

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